tentativa de organização I

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

sabor da fazenda

Quem faz iogurte em casa sabe que pra isso não pode ter pressa. A natureza tem seu tempo, não há como fazê-lo de outra forma.

Faz um tempo que meus iogurtes desandavam. Às vezes por querer encaixar sua feitura no meio de um dia corrido, entre um almoço e uma escovação de dentes. Definitivamente, isso não funciona.
E mesmo quando deram certo em termos de consistência, meus últimos iogurtes teimaram em preservar uma acidez um pouco acima do normal.
"Não estou acertando a temperatura", pensava eu, ou que devia estar colocando a colherada do iogurte inicial enquanto o leite ainda estava muito quente, então os lactobacilos ficam muito agitados e soltam ácidos a mais... sei lá. Vou dizer que não sou muito especialista ou estudiosa dos efeitos químico-celulares de microorgânismos em termos culinários, sou mais dependente da minha intuição, mesmo.
Pensava que tinha perdido a força intuitiva, mas os iogurtes estavam comíveis... (e qual a graça de comer um iogurte "comível"?)

Até que tive a oportunidade de passar um feriado de carnaval no retiro de um sítio ao sul de Minas. Eis que me deparo, logo na viagem de ida, com meu lado bezerro-recém-desmamado diante do famoso Leite na Pista e seu cardápio variado de... leites! Ao avistar no cardápio a palavra "leite" e as inúmeras possibilidades que dele podem surgir, e que se encontravam enumeradas embaixo, como "leite com toddy", "leite com mel", "leite cremoso"... me vi salivando, literalmente babando com a possibilidade de degustar o puro leite da vaquinha, como quer que fosse.
Fui no básico achocolatado, e nem foi aquela degustação dionisíaca, pois a dona do sítio aonde estaríamos dali pouco tempo informou que neste destino encontrariam-se vaquinhas de verdade à nossa disposição para explorarmos o sumo de suas tetas.
Por mais aflorado meu instinto mamífero naqueles instantes, não podia esquecer-me o lado ruim do leite no organismo adulto de um ser humano, e meus acompanhantes ajudavam, comentando que o fato de uma mulher de 50 kg beber o alimento que serve para nutrir um bezerro 4 vezes maior que ela implicaria em fungos e outras substâncias não muito bem-vindas ou cheirosas na digestão desse alimento.
Mas isso é simples, só ouvir um pouco o corpo que dá pra dizer chega à lactose e beber só um copo.

Mas o que me despertou não foi a volta à infância em termos uterinos, foi a lembrança do gosto de um alimento que, além de muito saboroso, acabou de ser fabricado naturalmente. Enfim, quem já colocou a caneca com chocolate debaixo da teta de um bicho desses (seja vaca ou cabra) e experimentou a espuma formada pelo leite recém-saído, na temperatura ideal, sabe do que eu estou falando.

E com esse leite, ainda morno, com cheiro de gordura de leite, puro creme, que não faz lembrar em momento algum a palavra colesterol, é que fiz o melhor iogurte da minha vida. Um verdadeiro manjar dos deuses.
Algo que só especialistas sabem desfrutar.


próximo tópico: a panqueca de Maçãs feita com leitinho da vaquinha e ovinho da galinha.

12 comentários:

Unknown disse...

Pra se fazer iogurte, tem que ter iogurte! Eu e o Gaú ficamos pirando nisso, na sua casa de praia...
Na Dinamarca, o rei coroado deve beber o iogurte-rei, pai de todos os iogurtes

Natalia Mallo disse...

bom, não necessariamente iogurte...
se voce tiver culturas simbióticas de lactobacillus e streptoccocus consegue fazer também

(google também é cultura)

de qualquer maneira, assino embaixo: o melhor iogurte jamais provado, nem aqui nem na grécia (pelo que me dizem, onde tem o melhor iogurte do mundo)

e além do leite da vaquinha, ter ficado embrulhadinho no cobertor ao lado da lareira deve ter ajudado, não?

eu só sei que a iogurteira tava com a mão boa...

Ana Dupas disse...

obrigada duplo.
1o pelo elogio de uma grande mestre da cozinha (quanto louvor!),
2o pela lembrança do acolhimento do cobertor e da lareira... tinha esquecido esse fato! Que lapso! Vou ter que reescrever o post qdo tiver um tempo...
realmente: o que conta é TODO o contexto...

Unknown disse...

esse blog já tá cheirando a leite estragado... vai publicar coisa nova ou não, Ni?

Ana Dupas disse...

eu aqui falando dessa questão tempo-sabor das coisas e já vem um dos 3 leitores desse blog apressar-me a publicar um novo post que ainda não criei. tudo bem, vou dar um jeito! público é público!

Anônimo disse...

bom, eu perdi o timing de fazer um comentário qdo deveria, mas faço agora...endosso totalmente a classificação do iogurte em questão como um dos "belhores iogurtes do bundo"!

Ana Dupas disse...

puxa...
sabe que estou pensando em dar um workshop de iogurte?
quem se candidata?

Mariá disse...

não abandonarei meu blog jamais. (às vezes dou um tempo, só isso)

e, quanto a essa palhaçada de iogurte: calma lá, mocinha, com essa pretensão toda, porque eu acabo de fazer um iogurte simplesmente sensacional. meus poderes voltaram, com toda a força! essa é pra você comer de joelhos. quer dizer, melhor você nem comer, se não é capaz que você chore.



(...competitiva, eu? imagine!)

Ana Dupas disse...

... escolha suas armas.

Mariá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariá disse...

ei! essa era a minha fala!
...então escolha o local em que você vai saborear o amargo gosto da derrota.

Unknown disse...

ow, põe aí a receita do iogurte, carai.