tentativa de organização I

domingo, 9 de março de 2008

Sonho, ou delírio

Chega de fundo preto!!!!

Não, é a nossa pesquisa espacial, o não-ocultar os bastidores, limpeza, o que importa, afinal, é o indivíduo em cena, o palco vazio tem energia...

Foda-se! Cansei de fundo preto! Cansei!!!!!

Lembre-se: a improvisação é o funeral dos seus desejos...

Cala a boca! Quero um fundo, branco, que seja! Qualquer coisa!... Pra mim isso é coisa de pobre, ficar miguelando cenário... fundo preto, fundo preto... argh!

PUF

Acaba tudo! Puf! Assim, acaba!
E aí?
E aí nada, acaba! É isso. Como você nasceu? Assim, puf! Sem saber, nasceu! De repente vai morrer. Deixar disso tudo, de ser.
Que loucura! Não pode ser. Mas e aí, e depois?
Depois nada. Nada. Nem isso, nada.
Eu lembro a primeira vez que pensei assim - Nossa, eu vou morrer e... puf! cabou! Cabou tudinho.
Acho que tinha uns doze anos... doze não, acho que sete. À noite, na casa da minha avó, num quarto sozinha, provavelmente longe da minha mãe. Talvez algum irmão ao lado, mas que estava dormindo, então não fazia diferença. Ele dormia e eu, não. Não conseguia dormir. Acho que foi minha primeira insônia, que eu me lembre.
Algumas dessas vezes, como hoje, me vem esse pensamento, esse vazio, que nem vazio é, nem nada... é: nossa! Eu vou morrer e... puf!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

exatos 31 min

porque um "cenas do próximo capítulo"? Deixei espectativas nos leitores e terei necessariamente que falar sobre algo que prometi...

panqueca de maçã
não foi simplesmente isso. Em primeiro lugar, era maçã verde. Isso muda tudo, pois o azedinho predomina (calibrado pelo limão que ainda por cima serve como entrave da oxidação - pra quem não sabe, o limão não deixa a maçã ficar escura).
A massa, pelo que parece, é bem simples. Não vou aqui ficar dando a receita pois não fui eu quem fez. Mas sei que vai o leitinho e o ovinho... (aqueles! - para entender leia o post abaixo). Enfim... que massa!! Formando par com o iogurte, parecia um manjar.... derretia na boca... hummm.

*Sabe aquela sobremesa com que se sonha? Eu sonho com essa: panacota. Não qualquer uma. Tive a sorte de ter uma amiga cuja mãe faz uma das melhores massas da cidade e, ainda por cima, a melhor panacota. E digo que virou melhor ainda pelo fator psicológico: ela parou de fabricar e a bichinha virou uma raridade!!!*

Então... a massa da panqueca tinha essa pegada panacota de ser... algo incrível.
Coberta com as maçãs azedinhas, o açúcar levemente queimado na frigideira e posteriormente flambado no rum e uma salpicada de canela... divina!
Quem fez? Como fazer? Pergunte à miss kitchen que ela sabe...
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Não foi nenhum drama falar da panqueca... pelo contrário, o assunto traz ótimas lembranças, olfativas, gustativas...
de fato, vou aprendendo cada vez mais com Isabel Allende (e inconscientes seguidoras), que o que conta realmente é um todo, que começa no valor que se dá aos alimentos (às vezes desde o momento em que são extraídos do seu ambiente natural, em outras deve-se esquecer completamente a origem daquilo - caso de bichinhos, fungos, etc) e passa por toda a forma como é preparado, curtido, vivenciado. Enfim, tudo tem seu tempo. Acho que é esse o grande segredo da cozinha, pelo pouco que sei.
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Talvez isso seja o grande segredo da vida, ou o grande aprendizado. Maturidade me parece cada vez mais ser a sabedoria com relação ao tempo.
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Bom, vocês pediram, tô aqui falando sobre a vida... ou perdendo tempo! O que é esse tempo virtual que tem a capacidade de nos sugar do mundo real??? Socorro!
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Vou viver um pouco.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

sabor da fazenda

Quem faz iogurte em casa sabe que pra isso não pode ter pressa. A natureza tem seu tempo, não há como fazê-lo de outra forma.

Faz um tempo que meus iogurtes desandavam. Às vezes por querer encaixar sua feitura no meio de um dia corrido, entre um almoço e uma escovação de dentes. Definitivamente, isso não funciona.
E mesmo quando deram certo em termos de consistência, meus últimos iogurtes teimaram em preservar uma acidez um pouco acima do normal.
"Não estou acertando a temperatura", pensava eu, ou que devia estar colocando a colherada do iogurte inicial enquanto o leite ainda estava muito quente, então os lactobacilos ficam muito agitados e soltam ácidos a mais... sei lá. Vou dizer que não sou muito especialista ou estudiosa dos efeitos químico-celulares de microorgânismos em termos culinários, sou mais dependente da minha intuição, mesmo.
Pensava que tinha perdido a força intuitiva, mas os iogurtes estavam comíveis... (e qual a graça de comer um iogurte "comível"?)

Até que tive a oportunidade de passar um feriado de carnaval no retiro de um sítio ao sul de Minas. Eis que me deparo, logo na viagem de ida, com meu lado bezerro-recém-desmamado diante do famoso Leite na Pista e seu cardápio variado de... leites! Ao avistar no cardápio a palavra "leite" e as inúmeras possibilidades que dele podem surgir, e que se encontravam enumeradas embaixo, como "leite com toddy", "leite com mel", "leite cremoso"... me vi salivando, literalmente babando com a possibilidade de degustar o puro leite da vaquinha, como quer que fosse.
Fui no básico achocolatado, e nem foi aquela degustação dionisíaca, pois a dona do sítio aonde estaríamos dali pouco tempo informou que neste destino encontrariam-se vaquinhas de verdade à nossa disposição para explorarmos o sumo de suas tetas.
Por mais aflorado meu instinto mamífero naqueles instantes, não podia esquecer-me o lado ruim do leite no organismo adulto de um ser humano, e meus acompanhantes ajudavam, comentando que o fato de uma mulher de 50 kg beber o alimento que serve para nutrir um bezerro 4 vezes maior que ela implicaria em fungos e outras substâncias não muito bem-vindas ou cheirosas na digestão desse alimento.
Mas isso é simples, só ouvir um pouco o corpo que dá pra dizer chega à lactose e beber só um copo.

Mas o que me despertou não foi a volta à infância em termos uterinos, foi a lembrança do gosto de um alimento que, além de muito saboroso, acabou de ser fabricado naturalmente. Enfim, quem já colocou a caneca com chocolate debaixo da teta de um bicho desses (seja vaca ou cabra) e experimentou a espuma formada pelo leite recém-saído, na temperatura ideal, sabe do que eu estou falando.

E com esse leite, ainda morno, com cheiro de gordura de leite, puro creme, que não faz lembrar em momento algum a palavra colesterol, é que fiz o melhor iogurte da minha vida. Um verdadeiro manjar dos deuses.
Algo que só especialistas sabem desfrutar.


próximo tópico: a panqueca de Maçãs feita com leitinho da vaquinha e ovinho da galinha.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

se fué

Por que tudo o que é bom acaba logo? Talvez a resposta seja: pra deixar o gostinho na boca, provocar boas lembranças, suscitar outras coisas boas...
Ou porque simplesmente... é assim.


É preciso começar a perder a memória, mesmo que das pequenas coisas, para percebermos que é a memória que faz nossa vida [...] Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nosso sentimento, até mesmo nossa ação. Sem ela, somos nada [...] (Só posso esperar pela amnésia final, a que pode apagar toda uma vida, como fez com a de minha mãe [...]

Luis Buñuel



Em resposta a "o que era doce" (do sapato ao elefante), de uma grande amiga inspiradora e à memória da sua pequena Margot.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

"Tardio pero no mucho"

No ápice das férias, em momento de profunda reflexão e revisão das coisas e sentimentos, me inspirei e escrevi, em 5 minutos (o que para uma mão direita recém-habilitada trata-se de uma grande vitória!), meus votos de feliz ano novo que tanto quis mandar aos amigos no final de 2007 e a correria e falta de espaço interno para tanto me impediram de fazê-lo.
Ao retornar, abri minha entupida caixa de e-mails e todas as mensagens de "feliz 2008" ou coisas semelhantes, pareciam antigas e exigiam um esforço tremendo para entrar no clima... então cheguei à conclusão de que havia passado a hora de enviar a minha.
Decidi, então, publicá-la no blog, mais como uma forma de registro, sem ter que obrigar ninguém a passar por esse tipo de reflexão tardia (ou não...)
Aos interessados:

1 2008
em que estejamos cada vez mais próximos do sensível e que isto e a sinceridade não fiquem superficiais como às vezes acontece em círculos sociais... onde nós, cerne das classes bem-afortunadas financeira ou culturalmente (ou ambos), nos damos ao luxo de nos vangloriar de alguma sensibilidade sem sentí-la, ou de sinceridade sem de fato estarmos sendo... com nós mesmos.

Que sejamos sinceros com ninguém mais que nossas próprias almas e sensíveis com quem e o que amamos e para identificar quem está por perto e nos ama. Pois um dia me disseram: "Deus está em quem ama e não no ser amado".

Deixe de lado o cristianismo* e toda a religião que o privar de suas necessidades mais genuínas, reais e sinceras. Deixe a raiva vir quando é chamada; a inveja quando lhe causar faíscas criativas; a preguiça, tão necessária ao movimento de acordar; a gula, que te fará gozar os prazeres irresistíveis, e outros que um dia lhe disseram serem pecados e, como se não bastasse tal fardo, imediatamente são relacionados à culpa - esta sim serve para destruir o homem.
No lugar dela, cultive a reflexão (mesmo que tardia...), o aprendizado (muitas vezes tardio...) e o amor (não deixe para mais tarde o coitado - tão citado que perde seu às vezes tão óbvio significado).
Obrigada por estarem comigo no ano que passou, compartilharem minhas alegrias e frustrações (e quantas!), uns mais próximos, outros mais distantes, mas que estiveram presentes de alguma forma ou porque gostaria que estivessem e que continuem nesse ano novo, e consequentemente nos que vêm adiante.
Como a vida é feita de ciclos e precisamos deles para nos rever e planejar o que está por vir, desejo um 2008 do caralho pra vocês! Quebrem tudo! Vamos dar ao mundo o que ele merece por estarmos aqui, sem micharia! Vamos ao que viemos!


*com respeito a toda e qualquer religião, mas, mais ainda, ao corpo.